Cresça ao livre arbítrio

Valorizamos a liberdade tanto quanto a tememos. Mas em que consiste? Na rejeição de proibições e preconceitos, a capacidade de fazer o que quiser? É sobre mudar de carreira aos 50 anos ou fazer uma turnê mundial sem um tostão? E há algo em comum entre a liberdade de que um solteiro se gaba e a que um político glorifica?

Alguns de nós pensam que há liberdade demais: eles não aprovam casamentos entre pessoas do mesmo sexo permitidos na Europa ou projetos de TV como Dom-2. Outros, pelo contrário, estão indignados com a possível restrição da liberdade de imprensa, expressão e reunião. Isso significa que existem “liberdades” no plural, que se referem aos nossos direitos, e “liberdade” no sentido filosófico: a capacidade de agir independentemente, de fazer escolhas, de decidir por si mesmo.

E o que eu ganho com isso?

Os psicólogos têm sua própria visão: associam a liberdade às nossas ações, e não a nós mesmos. “Parece para muitos que ser livre significa ser livre para fazer o que você quer, e não ser livre significa ser forçado a fazer o que você não quer”, diz a psicoterapeuta familiar Tatyana Fadeeva. – É por isso que os “trabalhadores de colarinho branco” muitas vezes não se sentem livres: ficam no escritório o ano todo, mas eu gostaria de ir ao rio, pescar, ao Havaí.

E os aposentados, pelo contrário, falam de liberdade – de preocupações com filhos pequenos, ir trabalhar e assim por diante. Agora você pode viver como quiser, eles se alegram, só a saúde não permite...

Ou seja, tocar violão a noite toda e se divertir, enquanto a casa toda dorme, ainda não é liberdade. Mas se ao mesmo tempo estivermos prontos para o fato de que vizinhos furiosos ou a polícia possam vir correndo a qualquer momento, isso é liberdade.

MOMENTO HISTÓRICO

A ideia de que a liberdade pode ser um valor originou-se na filosofia humanista do século XNUMX. Em particular, Michel Montaigne escreveu extensivamente sobre a dignidade humana e os direitos fundamentais do indivíduo. Em uma sociedade do destino, onde todos são chamados a seguir os passos de seus ancestrais e permanecer em sua classe, onde o filho de um camponês inevitavelmente se torna um camponês, onde a loja da família é passada de geração em geração, onde os pais escolher futuros cônjuges para seus filhos, a questão da liberdade é secundária.

Deixa de ser assim quando as pessoas começam a pensar em si mesmas como indivíduos. A liberdade veio à tona um século depois graças à filosofia do Iluminismo. Pensadores como Kant, Spinoza, Voltaire, Diderot, Montesquieu e o Marquês de Sade (que passou 27 anos na prisão e em um manicômio) se propuseram a libertar o espírito humano do obscurantismo, da superstição, dos grilhões da religião.

Então, pela primeira vez, tornou-se possível imaginar a humanidade dotada de livre arbítrio, livre do fardo da tradição.

Como é nosso jeito

“É preciso ter consciência das limitações que existem na vida”, diz a terapeuta Gestalt Maria Gasparyan. – Se ignorarmos as proibições, isso indica a imaturidade psicológica do indivíduo. A liberdade é para pessoas psicologicamente adultas. As crianças não sabem lidar com a liberdade.

Quanto mais nova a criança, menos liberdade e responsabilidade ela tem. Em outras palavras, “minha liberdade termina onde começa a liberdade de outra pessoa”. E não deve ser confundido com permissividade e arbitrariedade. Acontece que a responsabilidade é uma condição necessária para a liberdade.

Mas parece que isso soa estranho ao ouvido russo... Em nossa cultura, liberdade é sinônimo de livre arbítrio, um impulso espontâneo, e não de responsabilidade ou necessidade. “Um russo foge de qualquer controle, luta contra qualquer restrição”, observa Tatyana Fadeeva. “E ele se refere aos autocontroles como “grilhos pesados” como aqueles impostos de fora.”

Um russo foge de qualquer controle, luta contra qualquer restrição.

Curiosamente, os conceitos de liberdade e vontade – vontade no sentido de que você pode fazer o que quiser e não obterá nada por isso – do ponto de vista dos psicólogos, eles não estão conectados. “Parecem ser de óperas diferentes”, diz Maria Gasparyan. “As verdadeiras manifestações da liberdade são fazer escolhas, aceitar limitações, ser responsável por ações e atos, estar ciente das consequências de sua escolha.”

Quebrando – não construindo

Se retornarmos mentalmente aos nossos 12-19 anos, certamente nos lembraremos de quão apaixonadamente ansiávamos pela independência, mesmo que quase não se manifestasse externamente. E a maioria dos adolescentes, para se libertar da influência dos pais, protesta, destrói, quebra tudo em seu caminho.

“E então começa o mais interessante”, diz Maria Gasparyan. – Um adolescente está procurando por si mesmo, tateando o que está perto dele, o que não está perto, desenvolve seu próprio sistema de valores. Ele tomará alguns valores dos pais, rejeitará alguns. Em um cenário ruim, por exemplo, se a mãe e o pai interferem no processo de separação, o filho pode ficar preso em uma rebelião adolescente. E para ele a ideia de libertação se tornará superimportante.

Para quê e de quê, não está claro. Como se o protesto pelo protesto se tornasse o principal, e não o movimento em direção aos próprios sonhos. Pode durar por toda a vida.” E com um bom desenvolvimento de eventos, o adolescente chegará aos seus próprios objetivos e desejos. Comece a entender pelo que lutar.

Lugar para realização

Quanto nossa liberdade depende do meio ambiente? Refletindo sobre isso, o escritor e filósofo existencial francês Jean-Paul Sartre escreveu uma vez palavras chocantes no artigo “A República do Silêncio”: “Nunca fomos tão livres quanto durante a ocupação”. o movimento tinha o peso de uma obrigação.” Poderíamos resistir, nos rebelar ou permanecer em silêncio. Não havia ninguém para nos mostrar o caminho a seguir.”

Sartre encoraja todos a se perguntarem: “Como posso viver mais de acordo com quem eu sou?” O fato é que o primeiro esforço a ser feito para se tornarem atores ativos na vida é sair da posição de vítima. Cada um de nós é potencialmente livre para escolher o que é bom para si, o que é ruim. Nosso pior inimigo somos nós mesmos.

Ao repetir para nós mesmos “é assim que deve ser”, “você deve”, como nossos pais podem ter dito, envergonhando-nos por enganar suas expectativas, não nos permitimos descobrir nossas verdadeiras possibilidades. Não somos responsáveis ​​pelas feridas que sofremos na infância e cuja memória traumática nos mantém cativos, mas somos responsáveis ​​pelos pensamentos e imagens que aparecem em nós quando os lembramos.

E somente libertando-nos deles, podemos viver nossas vidas com dignidade e felicidade. Construir um rancho na América? Abrir um restaurante na Tailândia? Viajar para a Antártida? Por que não ouvir seus sonhos? Nossos desejos dão origem a pensamentos motivadores que muitas vezes nos dão o poder de realizar o que os outros pensam ser impossível.

Isso não significa que a vida seja fácil. Por exemplo, para uma jovem mãe que está criando os filhos sozinha, apenas liberar uma noite para ir a uma aula de ioga às vezes é um verdadeiro feito. Mas nossos desejos e o prazer que eles trazem nos dão força.

3 passos para o seu “eu”

Três meditações oferecidas pela terapeuta Gestalt Maria Gasparyan ajudam a alcançar a calma e a se aproximar de si mesmo.

“Lago Liso”

O exercício é especialmente eficaz para reduzir a emocionalidade elevada. Imagine diante de sua mente uma extensão absolutamente tranquila e sem vento do lago. A superfície é completamente calma, serena, lisa, refletindo as belas margens do reservatório. A água é como um espelho, limpa e uniforme. Ele reflete o céu azul, nuvens brancas como a neve e árvores altas. Você simplesmente admira a superfície deste lago, sintonizando-se com sua calma e serenidade.

Faça o exercício por 5 a 10 minutos, você pode descrever a imagem, listando mentalmente tudo o que está presente nela.

“escovas”

Esta é uma antiga maneira oriental de focar e eliminar pensamentos perturbadores. Pegue o rosário e vire-o lentamente, concentrando-se totalmente nessa atividade, direcionando sua atenção apenas para o processo em si.

Ouça como seus dedos tocam as contas e mergulhe nas sensações, alcançando a máxima consciência. Se não houver rosários, você pode substituí-los rolando os polegares. Cruze os dedos, como muitas pessoas fazem em pensamento, e role os polegares, concentrando-se totalmente nessa ação.

“Adeus Tirano”

Que tipo de pessoas assustam sua Criança Interior? Eles têm poder sobre você, você os admira ou eles fazem você se sentir fraco? Imagine que um deles está na sua frente. Como você se sente na frente dele? Quais são as sensações no corpo? O que você sente sobre si mesmo? E a sua energia? Como você se comunica com essa pessoa? Você se julga e tenta mudar a si mesmo?

Agora identifique a pessoa principal em sua vida sobre quem você sente sua própria superioridade. Imagine que você está na frente dele, faça as mesmas perguntas. Comparar respostas. Faça uma conclusão.

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