«Sou adulto há muito tempo»: um novo formato de comunicação com os pais

Crescemos, mas para os pais, o tempo parece ter parado: continuam a nos tratar como adolescentes, e isso nem sempre é agradável. O psicoterapeuta Robert Taibbi sugere redefinir seu relacionamento com seus pais e levá-lo para o próximo nível.

Episódios da infância são lembrados de diferentes maneiras. Se perguntarmos aos nossos pais como foi uma viagem de domingo ao parque de diversões trinta anos atrás, eles contarão sua história. E podemos descrever o mesmo dia de uma maneira completamente diferente. Surgirá ressentimento por termos sido repreendidos, decepção quando não compramos um segundo sorvete. A conclusão é que as memórias dos pais e de seus filhos adultos sobre os mesmos eventos serão diferentes.

À medida que crescemos, avançamos e nossas necessidades, bem como nossas memórias de nosso relacionamento com nossos pais, mudam. Às vezes, aos 30 anos, pensando na infância, as pessoas de repente descobrem algo novo em seu passado. Algo enterrado sob outras emoções e pensamentos. Um novo olhar pode mudar a atitude em relação ao passado, causar raiva e ressentimento. E eles, por sua vez, provocam um conflito ou uma ruptura completa com a mãe e o pai.

O psicoterapeuta Robert Taibbi cita o exemplo de Alexander, que admitiu em uma sessão que teve uma «infância difícil». Ele foi muitas vezes repreendido e até espancado, raramente elogiado e apoiado. Relembrando o passado, ele enviou com raiva uma longa carta acusatória para seus pais e pediu que eles nunca mais se comunicassem com ele.

Os pais não acompanham os tempos e não entendem que os filhos cresceram e os velhos truques não funcionam mais.

Outro exemplo da prática de Taibbi é a história de Anna, que está acostumada a controlar sua vida atual, está acostumada a ter seus pedidos atendidos e proibições não serem violadas. No entanto, seus pais não a ouviram. Anna pediu para não dar muitos presentes ao filho no aniversário dele, e eles trouxeram uma montanha inteira. A mulher ficou brava e chateada. Ela decidiu que seus pais a estavam tratando como uma adolescente – fazendo o que bem entendessem sem levar suas palavras a sério.

Segundo Robert Taibbi, os pais vivem com lembranças e visões antigas, não acompanham os tempos e não entendem que os filhos cresceram e os velhos truques não funcionam mais. Os pais de Alexander e Anna não perceberam que a realidade havia mudado, suas abordagens estavam desatualizadas. Relacionamentos como esse precisam de um reboot.

Como fazer isso?

Robert Taibbi recomenda: «Se você está com raiva do passado, sente que seus pais não o entendem, tente recomeçar seu relacionamento.»

Para isso, você precisa:

Entenda por que eles são. Os pais têm direito à opinião deles sobre sua infância. E por hábito eles ainda pensam em você como pequeno. A realidade é que as pessoas dificilmente mudam com a idade, a menos que tenham uma forte motivação. E para que o comportamento deles mude, não basta pedir que não dêem um monte de presentes ao neto.

Calmamente diga como você se sente. Ser honesto sobre como você vê e vivencia a infância pode ser reconfortante e recompensador. Mas você precisa saber quando parar. Afinal, acusações intermináveis ​​não trarão clareza e compreensão, mas apenas farão seus pais se sentirem enterrados sob suas emoções e confusos. Eles vão decidir que você não é você mesmo, bêbado ou tendo um período difícil. Algo semelhante pode acontecer com Alexandre, e sua carta não atingirá o objetivo.

Taibbi recomenda que você converse com seus pais com calma, sem ameaças ou acusações, e peça que eles o ouçam. “Seja persistente e explique da forma mais clara possível, mas na medida do possível sem emoções desnecessárias e com a mente sóbria”, escreve o psicoterapeuta.

Quando as pessoas são convidadas a parar o que estão fazendo há décadas, elas se sentem perdidas.

Explique o que você precisa agora. Não se apegue ao passado, tente persistentemente mudar a maneira como seus pais veem os eventos de sua infância. É melhor direcionar a energia para o presente. Por exemplo, Alexander pode explicar a seus pais o que ele quer deles agora. Anna — para compartilhar com a mãe e o pai suas experiências, para contar que quando seus pedidos são ignorados, ela se sente rejeitada. Na hora da conversa, é necessário se expressar com clareza e sem emoções desnecessárias.

Dê aos pais um novo papel. Quando as pessoas são convidadas a parar o que estão fazendo há décadas, elas se sentem perdidas e não sabem como proceder. A melhor coisa a fazer ao reiniciar um relacionamento é substituir velhos padrões de comportamento por novos. Por exemplo, Alexander precisa de seus pais para ouvi-lo e apoiá-lo. Para ele e para eles será uma experiência qualitativamente nova. Anna convencerá os pais a não gastar dinheiro em presentes, mas a levar a criança ao zoológico ou museu ou conversar com ela, descobrir como ela vive, o que faz, o que ama.

Reiniciar um relacionamento requer sabedoria, paciência e tempo. Você pode até precisar consultar um psicólogo da família. Mas Taibbi acredita que vale a pena, porque no final você terá o que mais precisa: a compreensão e o respeito de seus pais.


Sobre o autor: Robert Taibbi é psicoterapeuta, supervisor e autor de livros sobre psicoterapia.

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