Psicologia

Por que ansiamos por alguns sentimentos e nos envergonhamos de outros? Se aprendermos a aceitar quaisquer experiências como sinais naturais, entenderemos melhor a nós mesmos e aos outros.

"Não se preocupe". Ouvimos essa frase desde a infância de parentes, professores e pessoas de fora que veem nossa preocupação. E recebemos a primeira instrução sobre como tratar emoções negativas. Ou seja, eles devem ser evitados. Mas por que?

mau bom conselho

Uma abordagem saudável das emoções sugere que todas elas são importantes para a harmonia mental. As emoções são faróis que dão um sinal: é perigoso aqui, é confortável lá, você pode fazer amizade com essa pessoa, mas é melhor ter cuidado. Aprender a conhecê-los é tão importante que chega a ser estranho porque a escola ainda não introduziu um curso de alfabetização emocional.

O que exatamente é um mau conselho — «não se preocupe»? Dizemos com boas intenções. Queremos ajudar. Na verdade, tal ajuda apenas afasta a pessoa de compreender a si mesma. A crença no poder mágico do «não se preocupe» baseia-se na ideia de que algumas emoções são inequivocamente negativas e não devem ser experimentadas.

Você pode experimentar várias emoções conflitantes ao mesmo tempo, e isso não é motivo para duvidar de sua saúde mental.

O psicólogo Peter Breggin, em seu livro Culpa, Vergonha e Ansiedade, nos ensina a ignorar o que ele chama de “emoções com trilhas negativas”. Como psiquiatra, Breggin vê regularmente pessoas que se culpam por tudo, sofrem de vergonha e se preocupam para sempre.

Claro que ele quer ajudá-los. Este é um desejo muito humano. Mas, tentando espalhar o impacto negativo, Breggin espalha as próprias experiências.

Lixo, lixo fora

Quando dividimos as emoções em emoções estritamente positivas (e, portanto, desejáveis) e negativas (indesejadas), nos encontramos em uma situação que os programadores chamam de «Garbage in, Garbage Out» (GIGO para abreviar). Se você inserir a linha de código errada em um programa, ele não funcionará ou gerará erros.

A situação “Entra lixo, sai lixo” ocorre quando internalizamos vários equívocos sobre emoções. Se você os tem, é mais provável que fique confuso sobre seus sentimentos e não tenha competência emocional.

1. O mito da valência das emoções: quando representamos cada sentimento em termos de agradável ou desagradável, desejável para nós ou não.

2. Limitação em trabalhar com emoções: quando acreditamos que os sentimentos devem ser suprimidos ou expressos. Não sabemos explorar o sentimento que nos cobre e nos esforçamos para nos livrar dele o mais rápido possível.

3. Negligência de nuances: quando não entendemos que cada emoção tem muitas gradações de intensidade. Se nos sentimos um pouco incomodados com um novo emprego, isso não significa que fizemos a escolha errada e que devemos sair imediatamente.

4.simplificação: quando não percebemos que várias emoções podem ser vivenciadas ao mesmo tempo, elas podem ser contraditórias, e isso não é motivo para duvidar de nossa saúde mental.

O mito da valência das emoções

As emoções são a resposta da psique a estímulos externos e internos. Por si só, eles não são bons nem maus. Eles simplesmente executam uma função específica essencial para a sobrevivência. No mundo moderno, geralmente não temos que lutar pela vida no sentido literal, e estamos tentando controlar emoções inadequadas. Mas alguns vão mais longe, tentando excluir completamente da vida aquilo que traz sensações desagradáveis.

Ao decompor as emoções em negativas e positivas, separamos artificialmente nossas reações do contexto em que elas apareceram. Não importa por que estamos chateados, o importante é que isso significa que vamos parecer azedos no jantar.

Tentando abafar as emoções, não nos livramos delas. Nós nos treinamos para não ouvir a intuição

No ambiente de negócios, as manifestações de sentimentos associados ao sucesso são especialmente valorizadas: inspiração, confiança, calma. Pelo contrário, tristeza, ansiedade e medo são considerados um sinal de perdedor.

A abordagem em preto e branco das emoções sugere que as “negativas” precisam ser combatidas (suprimindo-as ou, inversamente, deixando-as fluir), e as “positivas” devem ser cultivadas em si mesmo ou, na pior das hipóteses, retratado. Mas, como resultado, é isso que leva ao consultório de um psicoterapeuta: não podemos suportar o fardo das experiências reprimidas e não podemos descobrir o que realmente sentimos.

Abordagem empática

A crença em emoções boas e ruins torna difícil perceber seu valor. Por exemplo, um medo saudável nos impede de correr riscos desnecessários. A ansiedade sobre a saúde pode motivá-lo a desistir de junk food e praticar esportes. A raiva o ajuda a defender seus direitos, e a vergonha o ajuda a gerenciar seu comportamento e correlacionar seus desejos com os desejos dos outros.

Tentando evocar emoções em nós mesmos sem motivo, violamos sua regulação natural. Por exemplo, uma garota vai se casar, mas ela duvida que ela ame seu escolhido e o amará no futuro. No entanto, ela se convence: “Ele me carrega nos braços. Eu deveria estar feliz. Tudo isso é um absurdo.» Tentando abafar as emoções, não nos livramos delas. Nós nos treinamos para não ouvir a intuição e não tentar agir de acordo com ela.

Uma abordagem empática significa que aceitamos uma emoção e tentamos entender o contexto em que ela surgiu. Isso se aplica à situação em que você está agora? Alguma coisa te incomodou, te incomodou ou te assustou? Por que você se sente assim? Parece algo que você já experimentou? Ao fazer perguntas a nós mesmos, podemos obter uma compreensão mais profunda da essência das experiências e fazê-las funcionar para nós.


Sobre o Especialista: Carla McLaren é pesquisadora social, criadora da teoria da Integração Emocional Dinâmica e autora de The Art of Empathy: How to Use Your Most Important Life Skill.

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