Anton Mironenkov – “Se as bananas não são vendidas, algo está errado”

O diretor administrativo da X5 Technologies, Anton Mironenkov, contou como a inteligência artificial ajuda a prever nossas compras e onde a empresa encontra as tecnologias mais promissoras

Sobre o especialista: Anton Mironenkov, diretor administrativo da X5 Technologies.

Trabalha no X5 Retail Group desde 2006. Ocupou cargos seniores na empresa, incluindo diretor de fusões e aquisições, estratégia e desenvolvimento de negócios e big data. Em setembro de 2020, ele chefiou uma nova unidade de negócios – X5 Technologies. A principal tarefa da divisão é criar soluções digitais complexas para as cadeias de negócios e varejo X5.

A pandemia é o motor do progresso

— O que é varejo inovador hoje? E como a percepção disso mudou nos últimos anos?

— Essa é, antes de tudo, a cultura interna que está se desenvolvendo nas empresas varejistas — a vontade de fazer constantemente algo novo, mudar e otimizar os processos internos, inventar várias coisas interessantes para os clientes. E o que estamos vendo hoje é muito diferente das abordagens de cinco anos atrás.

As equipes engajadas na inovação digital não estão mais concentradas no departamento de TI, mas estão localizadas dentro das funções de negócio – departamentos operacionais, comerciais, logísticos. Afinal, quando você apresenta algo novo, é importante antes de tudo entender o que o comprador espera de você e como funcionam todos os processos. Por isso, na cultura corporativa da X5, ganha cada vez mais importância o papel do dono de um produto digital, que determina o vetor de desenvolvimento de plataformas que marcam o ritmo dos processos da empresa.

Além disso, a taxa de mudança nos negócios aumentou dramaticamente. Cinco anos atrás, era possível introduzir algo e, por mais três anos, permaneceu um desenvolvimento único que ninguém mais possui. E agora você acabou de fazer algo novo, introduziu no mercado e em seis meses todos os concorrentes o possuem.

É claro que é muito interessante viver nesse ambiente, mas não muito fácil, porque a corrida pela inovação no varejo continua sem parar.

— Como a pandemia afetou o desenvolvimento tecnológico do varejo?

— Ela se esforçou para ser mais progressiva na introdução de novas tecnologias. Entendemos que não havia tempo para esperar, só tínhamos que ir e fazer.

Um exemplo vívido é a velocidade de conexão de nossas lojas aos serviços de entrega. Se antes conectávamos de um a três pontos de venda por mês, no ano passado o ritmo chegava a dezenas de lojas por dia.

Como resultado, o volume de vendas online do X5 em 2020 foi de mais de 20 bilhões de rublos. Isso é quatro vezes mais do que em 2019. Além disso, a demanda que surgiu no contexto do coronavírus permaneceu mesmo após o levantamento das restrições. As pessoas experimentaram uma nova forma de comprar produtos e continuam a usá-la.

— Qual foi a maior dificuldade dos retalhistas na adaptação às realidades pandémicas?

– A principal dificuldade foi que no começo tudo acontecia ao mesmo tempo. Os compradores compraram mercadorias em massa nas lojas e também encomendaram online em massa, os montadores correram pelos pregões e tentaram fazer pedidos. Paralelamente, o software foi depurado, bugs e travamentos foram eliminados. A otimização e mudança de processos era necessária, pois o atraso em qualquer uma das etapas poderia resultar em horas de espera para o cliente.

Ao longo do caminho, tivemos que abordar questões de segurança de saúde que vieram à tona no ano passado. Além dos antissépticos obrigatórios, máscaras, desinfecção de instalações, a tecnologia também desempenhou um papel aqui. Para evitar a necessidade de os clientes ficarem na fila, aceleramos a instalação de caixas de autoatendimento (mais de 6 já foram instalados), introduzimos a capacidade de escanear mercadorias de um telefone celular e pagar por isso no celular Express Scan inscrição.

Dez anos antes da Amazônia

– Acontece que as tecnologias necessárias para trabalhar em uma pandemia já estavam disponíveis, faltava apenas lançar ou escalar. Alguma solução tecnológica fundamentalmente nova foi introduzida no ano passado?

— Leva tempo para criar novos produtos complexos. Geralmente, leva mais de um ano desde o início do desenvolvimento até o lançamento final.

Por exemplo, o planejamento de sortimento é uma tecnologia bastante complicada. Especialmente considerando que temos muitas regiões, tipos de lojas e as preferências dos compradores em diferentes locais são diferentes.

Durante a pandemia, simplesmente não teríamos tempo para criar e lançar um produto com esse nível de complexidade. Mas lançamos uma transformação digital em 2018, quando ninguém contava com o coronavírus. Portanto, quando a pandemia começou, já tínhamos soluções prontas no caminho que ajudaram a melhorar o trabalho.

Um exemplo do lançamento da tecnologia durante a crise do corona é o serviço Express Scan. Estas são compras seguras sem contato usando um telefone celular baseado nos habituais Pyaterochka e Perekrestok. Uma equipe multiformato de mais de 100 pessoas lançou este projeto em apenas alguns meses e, contornando o estágio piloto, passamos imediatamente para o dimensionamento. Hoje, o serviço opera em mais de 1 de nossas lojas.

— Como você avalia o nível de digitalização do varejo russo em geral?

— Nós na empresa discutimos por muito tempo como nos comparar corretamente com os outros e entender se digitalizamos bem ou mal. Como resultado, criamos um indicador interno – o índice de digitalização, que abrange um número bastante grande de fatores.

Nessa escala interna, nosso índice de digitalização já está em 42%. Para comparação: o varejista britânico Tesco tem cerca de 50%, o americano Walmart tem 60-65%.

Líderes globais em serviços digitais, como a Amazon, alcançaram mais de 80% de desempenho. Mas no comércio eletrônico não há processos físicos que tenhamos. Os marketplaces digitais não precisam alterar os preços nas prateleiras – basta alterá-los no site.

Levaremos cerca de dez anos para atingir esse nível de digitalização. Mas isso desde que a mesma Amazônia fique parada. Ao mesmo tempo, se os mesmos gigantes digitais decidirem ficar offline, eles terão que “alcançar” nosso nível de competência.

— Em qualquer setor existem tecnologias subestimadas e superestimadas. Na sua opinião, quais tecnologias são injustamente negligenciadas pelos varejistas e quais são superestimadas?

— Na minha opinião, as tecnologias que permitem planear e gerir as operações da loja através da gestão de tarefas são muito subestimadas. Até agora, muito aqui depende da experiência e conhecimento do diretor: se ele perceber alguma deficiência ou desvio no trabalho, ele dá a tarefa de corrigi-lo.

Mas esses processos podem ser digitalizados e automatizados. Para fazer isso, implementamos algoritmos para trabalhar com desvios.

Por exemplo, de acordo com as estatísticas, as bananas deveriam ser vendidas na loja a cada hora. Se eles não estão vendendo, algo está errado – provavelmente, o produto não está na prateleira. Em seguida, os funcionários da loja recebem um sinal para corrigir a situação.

Às vezes, não são usadas estatísticas para isso, mas reconhecimento de imagem, análise de vídeo. A câmera olha as prateleiras, verifica a disponibilidade e o volume da mercadoria e avisa se está prestes a acabar. Tais sistemas ajudam a alocar o tempo dos funcionários de forma mais eficiente.

Se falamos de tecnologias supervalorizadas, eu mencionaria etiquetas de preço eletrônicas. Claro, eles são convenientes e permitem que você altere os preços com mais frequência sem a participação física de uma pessoa. Mas é necessário? Talvez você devesse criar uma tecnologia de preços diferente. Por exemplo, um sistema de ofertas personalizadas, com o qual o comprador receberá mercadorias a um preço individual.

Grande rede – big data

— Quais tecnologias podem ser consideradas decisivas para o varejo hoje?

“O efeito máximo agora é dado por tudo relacionado ao sortimento, seu planejamento automático dependendo do tipo de loja, localização e ambiente.

Além disso, trata-se de precificação, planejamento de atividades promocionais e, o mais importante, previsão de vendas. Você pode fazer o sortimento mais legal e o preço mais avançado, mas se o produto certo não estiver na loja, os clientes não terão nada para comprar. Dada a escala – e temos mais de 17 mil lojas e cada uma de 5 mil a 30 mil posições – a tarefa se torna bastante difícil. Você precisa entender o que e em que momento levar, levar em consideração diferentes áreas e formatos de lojas, situação das estradas, prazos de validade e muitos outros fatores.

– A inteligência artificial é usada para isso?

— Sim, a tarefa de previsão de vendas não é mais resolvida sem a participação da IA. Estamos tentando aprendizado de máquina, redes neurais. E para aprimorar os modelos, utilizamos uma grande quantidade de dados externos de parceiros, que vão desde o congestionamento das pistas e terminando com o clima. Digamos que no verão, quando as temperaturas estão acima de 30 ° C, as vendas de cerveja, refrigerantes doces, água e sorvete aumentam drasticamente. Se você não fornecer um estoque, as mercadorias acabarão muito rapidamente.

O frio também tem características próprias. Em baixas temperaturas, as pessoas são mais propensas a visitar lojas de conveniência em vez de grandes hipermercados. Além disso, no primeiro dia de geada, as vendas costumam cair, porque ninguém quer sair. Mas no segundo ou terceiro dia, vemos o aumento da demanda.

No total, existem cerca de 150 fatores diferentes em nosso modelo de previsão. Além dos dados de vendas e do clima já mencionado, são engarrafamentos, ambientes de loja, eventos, promoções de concorrentes. Seria irrealista levar tudo isso em consideração manualmente.

— Como big data e inteligência artificial ajudam na precificação?

— Existem duas grandes classes de modelos para tomar decisões de preços. A primeira é baseada nos preços de mercado de um determinado produto. Os dados sobre etiquetas de preços em outras lojas são coletados, analisados ​​​​e, com base neles, de acordo com certas regras, são definidos preços próprios.

A segunda classe de modelos está associada à construção de uma curva de demanda, que reflete o volume de vendas em função do preço. Esta é uma história mais analítica. Online, esse mecanismo é muito utilizado, e estamos transferindo essa tecnologia do online para o offline.

Inicializações para a tarefa

— Como você escolhe tecnologias promissoras e startups nas quais a empresa investe?

— Temos um forte time de inovação que acompanha startups, monitora novas tecnologias.

Partimos das tarefas que precisam ser resolvidas – as necessidades específicas de nossos clientes ou a necessidade de melhorar os processos internos. E já sob essas soluções de tarefas são selecionadas.

Por exemplo, precisávamos organizar o monitoramento de preços, inclusive nas lojas dos concorrentes. Pensamos em criar essa tecnologia dentro da empresa ou comprá-la. Mas, no final, concordamos com uma startup que fornece esses serviços com base em suas soluções de reconhecimento de etiqueta de preço.

Juntamente com outra startup russa, estamos testando uma nova solução de varejo – “balanças inteligentes”. O dispositivo usa IA para reconhecer automaticamente itens pesados ​​e economiza cerca de 1 hora de trabalho para os caixas por ano em cada loja.

De prospecção estrangeira, a startup israelense Evigence nos procurou com uma solução para controle de qualidade de produtos baseada em rótulos térmicos. No primeiro trimestre deste ano, esses rótulos serão colocados em 300 itens de produtos X5 Ready Food, que são fornecidos a 460 supermercados Perekrestok.

— Como a empresa trabalha com startups e em quais etapas ela é composta?

— Para encontrar empresas para cooperação, passamos por vários aceleradores, cooperamos com a Gotech, com a plataforma do governo de Moscou e com o Fundo de Desenvolvimento de Iniciativas da Internet. Buscamos inovações não só em nosso país, mas também em outros países. Por exemplo, trabalhamos com a incubadora de negócios Plug&Play e olheiros internacionais — Axis, Xnode e outros.

Quando entendemos pela primeira vez que a tecnologia é interessante, concordamos com projetos-piloto. Experimentamos a solução nos nossos armazéns e lojas, vejam o resultado. Para avaliar tecnologias, usamos nossa própria plataforma de teste A / B, que permite ver claramente o efeito de uma determinada iniciativa, compare com análogos.

Com base nos resultados dos pilotos, entendemos se a tecnologia é viável e planejamos lançá-la não em 10 a 15 lojas piloto, mas em toda a rede de varejo.

Nos últimos 3,5 anos, estudamos cerca de 2 startups e desenvolvimentos diferentes. Destes, 700 chegaram à fase de dimensionamento. Acontece que a tecnologia acaba sendo muito cara, soluções mais promissoras são encontradas ou não ficamos satisfeitos com o resultado do piloto. E o que funciona muito bem em alguns sites-piloto geralmente requer grandes modificações a serem implementadas em milhares de lojas.

— Qual a parcela de soluções desenvolvidas dentro da empresa e qual a parcela que você compra do mercado?

— Nós mesmos criamos a maioria das soluções — desde robôs que compram açúcar na Pyaterochka até plataformas multifuncionais únicas baseadas em dados.

Frequentemente, pegamos produtos em caixas padrão – por exemplo, para reabastecer lojas ou gerenciar processos de depósito – e os adicionamos às nossas necessidades. Discutimos tecnologias de gerenciamento de sortimento e precificação com muitos desenvolvedores, incluindo startups. Mas, no final, eles começaram a fazer produtos por conta própria para customizá-los para nossos processos internos.

Às vezes, as ideias nascem no processo de comunicação com as startups. E juntos descobrimos como a tecnologia pode ser aprimorada no interesse do negócio e implementada em nossa rede.

Mudando para smartphone

— Quais tecnologias determinarão a vida do varejo em um futuro próximo? E como a ideia de varejo inovador mudará nos próximos cinco a dez anos?

— Agora online e offline no varejo de supermercado funcionam como duas áreas independentes. Eu acho que eles vão se fundir no futuro. A transição de um segmento para outro será perfeita para o cliente.

Não sei exatamente o que substituirá as lojas clássicas, mas acho que em dez anos elas mudarão muito em termos de espaço e aparência. Parte das operações passará das lojas para os aparelhos de consumo. Consultar preços, montar uma cesta, recomendar o que comprar para um prato escolhido para o jantar – tudo isso caberá nos dispositivos móveis.

Como empresa de varejo, queremos estar com o cliente em todas as etapas de sua jornada – não apenas quando ele chega à loja, mas também quando decide o que cozinhar em casa. E pretendemos dar a ele não só a oportunidade de comprar na loja, mas também muitos serviços relacionados – até pedir comida em um restaurante por meio de um agregador ou conectar-se a um cinema online.

Já foi criado um único identificador de cliente, X5 ID, que permite reconhecer o usuário em todos os canais existentes. No futuro, queremos alargá-lo a parceiros que trabalham ou irão trabalhar connosco.

“É como criar seu próprio ecossistema. Que outros serviços estão planejados para serem incluídos nele?

— Já anunciamos nosso serviço de assinatura, está em fase de P&D. Agora estamos discutindo com parceiros quem pode entrar lá e como fazê-lo da maneira mais conveniente possível para os compradores. Esperamos entrar no mercado com uma versão de teste do serviço antes do final de 2021.

Os consumidores tomam decisões sobre a escolha dos produtos antes mesmo de ir à loja, e suas preferências são formadas sob a influência da esfera da mídia. Mídias sociais, sites de alimentação, blogs, podcasts moldam as preferências do consumidor. Assim, nossa própria plataforma de mídia com informações sobre produtos e alimentação passará a ser um dos canais de interação com nossos clientes na fase de planejamento das compras.


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