Psicologia

Separar-se de um parceiro é como uma operação cirúrgica: cortamos uma parte importante de nossa vida de nós mesmos. Não é surpreendente que este procedimento seja difícil e doloroso. Mas muitas vezes exacerbamos nossas próprias experiências, explica a psicóloga clínica Susan Heitler.

Minha cliente Stephanie ligou para pedir uma consulta urgente. “Não aguento mais! ela exclamou. “Tive um casamento tão difícil. Mas o divórcio me faz sofrer ainda mais!”

Durante a sessão, pedi a Stephanie que desse um exemplo de quando o comportamento do marido «quase ex» de John a fez sentir-se sobrecarregada.

“Fui à casa dele para pegar minhas coisas. E não encontrei minhas joias, que sempre tinha na gaveta de cima da cômoda. Perguntei-lhe onde poderiam estar. E ele nem respondeu, apenas deu de ombros, dizem, como é que ele sabe!

Perguntei como ela se sentia naquele momento.

“Ele está me punindo. Foi assim o tempo todo em que estivemos casados. Ele sempre me puniu”. O sofrimento soou em sua voz.

Essa resposta foi a chave para entender a situação. Para testar minha hipótese, pedi a Stephanie que recordasse outro episódio semelhante.

“Foi o mesmo quando perguntei onde estava o álbum com minhas fotos de infância, que minha mãe me deu. E ele respondeu com irritação: “Como eu sei?”

E qual foi a reação dela às palavras de John?

“Ele sempre me faz sentir inferior, como se eu estivesse sempre fazendo tudo errado”, ela reclamou. “Então eu reagi como de costume. Mais uma vez me senti tão arrasada que, tendo chegado ao meu novo apartamento, caí na cama e fiquei exausta o dia todo!”

Comportamentos que desenvolvemos no casamento exacerbam a ansiedade e a depressão

Por que a vida com o marido e o processo de divórcio foram tão dolorosos para Stephanie?

O casamento é sempre um desafio. Processo de divórcio também. E, via de regra, o que complica a vida no casamento torna o divórcio doloroso.

Deixe-me explicar o que quero dizer. É claro que o divórcio é, em princípio, uma coisa dolorosa que pode ser comparada a uma operação de amputação – cortamos de nós mesmos relacionamentos que costumavam significar muito para nós. Temos que reconstruir toda a nossa vida. E nesta situação é impossível, pelo menos ocasionalmente, não experimentar crises de ansiedade, tristeza ou raiva.

Mas, ao mesmo tempo, os padrões de comportamento que formamos neste casamento difícil exacerbam ainda mais nossos sentimentos, aumentam a ansiedade e a depressão.

Depende de muitos fatores, como suas respostas a perguntas como:

Até que ponto os outros membros da família são solidários?

— Existe algo inspirador em sua vida, algo que lhe permita não entrar em ciclos de divórcio?

— Você e seu “quase ex” parceiro estão prontos para cooperação ou confronto?

— Quanto egoísmo e ganância são inerentes a você ou a ele?

Fantasia x realidade

Mas voltando ao exemplo de Stephanie. O que exatamente tornou seu relacionamento com o marido tão doloroso e o que a impede de lidar com o processo de divórcio hoje? Esses são dois fatores que encontro com frequência na minha prática clínica.

A primeira é a má interpretação do comportamento de outra pessoa com a ajuda de padrões previamente formados, e a segunda é a personalização.

Interpretação errada devido a velhos padrões de pensamento significa que por trás das palavras de uma pessoa ouvimos a voz de outra – aquela que uma vez nos fez sofrer.

personalização significa que atribuímos as ações e ações de outra pessoa à nossa própria conta e percebemos isso como uma mensagem negativa para nós ou sobre nós. Em alguns casos, isso é verdade, mas na maioria das vezes, entender o comportamento de outra pessoa requer um contexto mais amplo.

Stephanie vê o comportamento hostil de seu marido «quase ex» como um desejo de puni-la. A parte infantil de sua personalidade reage às palavras de John da mesma forma que aos 8 anos ela reagiu ao seu pai abusivo quando ele a puniu.

Além disso, parece-lhe que é ela quem incomoda John. Por trás dessas fantasias, Stephanie perde de vista a situação real. John provavelmente está profundamente entristecido por sua esposa ter decidido deixá-lo, e são esses sentimentos que podem provocar sua irritação.

Reflita sobre o que as palavras e ações dolorosas da outra pessoa dizem sobre ela mesma, não sobre você.

No segundo episódio, o incômodo na voz de John para Stephanie significa que ele a desvaloriza. Mas se você se aprofundar, pode entender que ela ouve a voz desdenhosa de seu irmão mais velho, que na infância lhe mostrou sua superioridade de todas as maneiras possíveis.

E se voltarmos à realidade, veremos que João, ao contrário, assume uma posição defensiva. Parece-lhe que não é capaz de fazer nada para deixar sua esposa feliz.

Explicando a sua visão da situação, Stephanie usou repetidamente a expressão «ele me fez sentir…». Estas palavras são um sinal muito importante. Ele sugere que:

a) é provável que o falante interprete o que ouve através do prisma da experiência passada: o que essas palavras significariam em relação a outra pessoa;

b) há um elemento de personalização na interpretação, ou seja, uma pessoa tende a atribuir tudo à sua própria conta.

Como se livrar desses hábitos de pensamento improdutivos?

O conselho mais geral é refletir sobre o que as palavras e ações ofensivas da outra pessoa dizem sobre ela mesma, e não sobre você. John respondeu irritado a Stephanie porque estava deprimido e chateado. Sua frase «Como eu sei?» reflete seu estado de perda. Mas não se trata apenas de divórcio.

Quanto mais empatia mostramos por outras pessoas, mais fortes somos internamente.

Afinal, mesmo na vida familiar, John não tinha ideia do que sua esposa esperava dele. Ele não entendia suas afirmações, mas nunca a questionou, não tentou descobrir o que ela queria. Ele se retraiu em seus sentimentos de ansiedade, que rapidamente se transformaram em raiva que mascarou sua confusão.

O que quero dizer com este exemplo? Se você tiver que sofrer por causa do comportamento de seu cônjuge na vida familiar ou já em processo de divórcio, não interprete suas palavras e ações, não leve suas fantasias à realidade. Pergunte a ele como as coisas realmente são. Quanto mais precisamente você entender os verdadeiros sentimentos de um parceiro, mais claramente você verá a situação real, e não uma situação inventada.

Mesmo que você tenha um relacionamento complicado e confuso, tente voltar à realidade e trate seu parceiro com empatia. Afinal, ele pode olhar para você através do prisma de seus relacionamentos passados. E ele tem suas limitações, assim como você. Quanto mais empatia mostramos por outras pessoas, mais fortes somos internamente. Experimente e veja por si mesmo.

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