Mate – chá dos Incas

Poucos de nós já ouviram falar da planta de azevinho paraguaio. Provavelmente porque cresce apenas na América do Sul, nos territórios da Argentina e do Paraguai. Mas é essa planta despretensiosa e indefinida que dá às pessoas o mate – ou erva-mate – bebida presenteada aos índios pelo deus de olhos azuis Paya Sharume. Por muitos séculos, o mate ajudou primeiro os índios que viviam nas duras condições da selva e depois os pastores-gaúchos. Agora, os moradores das megacidades estão recorrendo cada vez mais às suas propriedades únicas, cuja vida se assemelha a um esquilo correndo em uma roda. O mate revigora e aquece, acalma e nutre, e as tradições de tomá-lo lembram um verdadeiro ritual – misterioso e encantador, como a própria América do Sul.

O mate é justamente considerado a bebida mais antiga do mundo: já no início do sétimo milênio aC, os índios sul-americanos o reverenciavam como um presente dos deuses. Existe uma lenda dos índios do Paraguai sobre a esteira: de alguma forma, o deus de olhos azuis Paya Sharume decidiu descer do Mundo da Montanha para a Terra para ver como as pessoas vivem. Ele e vários de sua comitiva caminharam por muito tempo pela selva, sem comida e água, até que finalmente avistaram uma cabana solitária. Era habitado por um velho e sua filha maravilhosamente bela. O velho cumprimentou graciosamente os convidados, serviu sua única galinha para o jantar e preparou uma hospedagem para a noite. Na manhã seguinte, Paya Sharume perguntou ao velho por que eles viviam tão isolados. Afinal, uma garota de tão rara beleza precisa de um noivo rico. Ao que o velho respondeu que a beleza de sua filha pertence aos deuses. Surpreso, Paya Sharume resolveu agradecer aos hospitaleiros anfitriões: ensinou o velho a cultivar, passou-lhe o conhecimento da cura e transformou sua linda filha em uma planta que vai ajudar as pessoas – não com sua beleza, mas com utilidade propriedades.

No século XNUMX, começou a colonização européia do continente e os monges jesuítas espanhóis aprenderam sobre o tapete. Foi deles que a bebida tirou o nome histórico de “mate”, mas essa palavra significa abóbora seca – mati, de onde se bebe o “chá paraguaio”. Os próprios índios Guarani a chamavam de “yerba”, que significa “erva”.

Os jesuítas consideravam a tradição de beber mate em círculo um ritual diabólico, e a própria bebida era considerada uma poção destinada a enfeitiçar e destruir, de modo que a cultura de beber mate foi brutalmente erradicada. Então, O padre Diego de Torres afirmava que os índios bebiam mate para consolidar sua conivência com o demônio.

No entanto, de uma forma ou de outra, o mate como curiosidade começou a penetrar na Europa já sob o nome de “chá jesuíta”.

A mãe foi novamente lembrada em XIX século depois de uma série de revoluções de libertação na América do Sul: como símbolo da identidade nacional, ele ocupou um lugar de honra à mesa não só das pessoas comuns, mas também da nova aristocracia da Argentina e do Paraguai. Nasceu a moda de salão de beber mate: o gosto de uma bebida em uma cabaça com tampa fechada significava a atitude de uma jovem para um cavalheiro. Mate doce com mel significava amizade, mate amargo significava indiferença, mate com melaço falava da saudade dos amantes.

Para os simples gaúchos e pastores da selva sul-americana, o mate sempre foi mais do que uma bebida. Ele foi capaz de matar a sede no calor do meio-dia, quente à noite, nutrir com força para uma nova longa viagem de gado. Tradicionalmente, os gaúchos bebiam o mate amargo, fortemente fermentado – símbolo de um homem de verdade, lacônico e acostumado à vida nômade. Conforme observado por alguns pesquisadores das tradições sul-americanas, é melhor para um gaúcho levantar-se duas horas mais cedo do que o esperado, nem que seja para tomar chimarrão devagar.

Existem muitas tradições de bebida, todas de natureza regional.

Para a Argentina, principal fornecedora da bebida hoje, a matepita é um evento familiar destinado apenas a um círculo restrito de pessoas.

E se você foi convidado para um mate noturno na Argentina, certifique-se de que eles confiam em você e o consideram um ente querido. Costuma-se brincar à mesa, dar notícias, o mate faz o papel de aglutinador, porque passa um jarro de abóbora. O dono da casa prepara pessoalmente o chimarrão e o serve primeiro ao membro mais respeitado da família.

No Paraguai, o primeiro gole de mate é uma história completamente diferente: quem toma primeiro é considerado um tolo. Todos os presentes ao mate negam diligentemente, porém, aquele que tem tal “destino” sempre cuspirá por cima do ombro, dizendo: “Não sou tolo, mas aquele que o negligencia”.

Os brasileiros, por outro lado, preparam o mate em uma grande cuba, e quem serve o mate é chamado de “cebador”, ou seja, “stoker”, pelo público. O foguista garante que sempre haja lenha e carvão no fogão, ele também é responsável por garantir que os convidados sempre tomem uma bebida na bombilla.

Só na década de 30 XX século no tatame voltou a chamar atenção não só em sua terra natal. Cientistas europeus se interessaram pelo fato de que os gaúchos argentinos durante longos passeios de gado podem passar um dia na sela, sem descanso, sob o sol escaldante, usando apenas uma infusão de azevinho paraguaio. No decorrer de pesquisas realizadas pelo Instituto Pasteur em Paris, descobriu-se que a matéria-prima de uma planta discreta da selva contém quase todos os nutrientes e vitaminas de que uma pessoa precisa diariamente! As folhas de azevinho paraguaio contêm vitamina A, vitaminas B, vitaminas C, E, P, potássio, manganês, sódio, ferro e cerca de 196 oligoelementos ativos! É esse “coquetel” que faz do mate uma ferramenta indispensável na luta contra a fadiga crônica, a depressão e a neurose: revigora e alivia a ansiedade ao mesmo tempo. Mate é simplesmente necessário para pessoas com problemas de pressão: aumenta a pressão baixa e diminui a pressão alta. E então, o mate é uma bebida muito saborosa com notas adocicadas e ao mesmo tempo azedas.

Qual é a maneira certa de cozinhar mate? Tradicionalmente, é cozido em vasilha de cabaça seca – índios sul-americanoschamá-lo mas para você. Na Rússia, o nome "kalabas" ou "calabash" (do espanhol "abóbora") criou raízes. É a abóbora, de estrutura porosa, que confere ao tapete aquele sabor único e reconhecível.

Mas antes do primeiro mate, a cabaça precisa ser revivida: para isso, despeja-se nela o mate (cerca de metade do produto seco por cabaça), regue com água e deixe por dois a três dias. Isso é feito para que os taninos contidos na esteira “perfurem” a estrutura porosa da cabaça e a limpem do excesso de odores. Após esse período, a abóbora é limpa e seca. Em geral, é necessário um bom cuidado com a cabaça: após cada matepita, ela deve ser bem limpa e seca.

Outro elemento necessário para o matepiya adequado é a bombilla - um tubo de filtro através do qual a bebida é sorvida lentamente. Tradicionalmente, é feito de prata, que desinfeta perfeitamente. Dada a tradição sul-americana de beber mate de um recipiente em círculo, isso é simplesmente necessário. O bastão é imerso em um recipiente com bebida, voltado para o bebedor. Movê-lo ou retirá-lo é simplesmente inaceitável.

E, claro, não se pode deixar de citar o pavê – vasilha especial com bica estreita na qual aqueço água para o chimarrão. A água, assim como seu preparo adequado, são componentes importantes de uma boa bebida. A água deve ser fervida e depois deixada esfriar a 70-80 graus. É claro que, no mundo moderno, é cada vez mais raro encontrar um relógio para beber mate sem pressa, mas o mate também pode ser preparado em uma prensa francesa comum. Claro, o “sabor” de beber vai desaparecer, mas isso não afetará as propriedades benéficas do produto. Mate – chá dos incas e jesuítas, um coquetel natural único que dá às pessoas o azevinho paraguaio – uma planta despretensiosa que cresce na selva argentina queimada pelo sol; um drink de corajosos gaúchos e charmosas señoritas argentinas pode ser encontrado cada vez mais na mesa de um morador da metrópole. É claro que, no contexto da vida moderna, onde tudo é agitado e não está claro onde e por que estão com pressa, nem sempre há tempo e oportunidade para uma verdadeira mãe beber. No entanto, quem já apreciou chimarrão e bombilla não poderá mais beber chimarrão preparado em prensa francesa. É uma espécie de blasfêmia. Esnobismo, você diz. Pode ser. Mas que bom, tomando mate na bombilla, imagine-se um bravo gaúcho, olhando ao longe a dura selva. PS   

Deixe um comentário