Vítima ou agressor: como abandonar o papel habitual no conflito

Embora a agressão possa ser não apenas destrutiva, mas também construtiva, na maioria das vezes nos deparamos com a primeira opção destrutiva. Infelizmente, nem sempre estamos cientes disso. Como entender que nos tornamos reféns da raiva de outra pessoa? E o que devemos fazer para não nos tornarmos agressores? O especialista fala.

A natureza ensina-nos a lutar por um pedaço maior, «devorando» uns aos outros, e ao mesmo tempo a sociedade chama a seguir as regras. No final, esse conflito nos divide: nos esforçamos para mostrar apenas impulsos socialmente aceitáveis ​​e acumulamos e escondemos outras emoções – até de nós mesmos. Mas todos sabem como terminam as histórias de pessoas pacientes: ou com a destruição de si mesmo ou com a destruição dos outros.

O fato é que mais cedo ou mais tarde o acumulado irrompe. Se romper, muitas vezes assume a forma de doenças psicossomáticas. Onde é fino, quebra ali: por exemplo, o coração pode não aguentar. Se os sentimentos negativos acumulados surgirem, aqueles que estão próximos sofrem e aqueles que não podem responder ou se defender - geralmente crianças e animais.

Lars von Trier fez um ótimo trabalho ao capturar a natureza da agressão humana em Dogville. Sua personagem principal, a jovem Grace, tendo escapado de uma gangue de gângsteres, encontra a salvação em uma pequena cidade. Os locais são um mais lindo que o outro! pronto para escondê-la. E não querem nada em troca. Bem, exceto para ajudar em casa ou cuidar das crianças. Mas aos poucos o fofo Dogville se transforma em uma câmara de tortura para a garota.

O que aconteceria se uma pedra em um sapato não nos irritasse? Seríamos uma vítima humilde que aceita a presença dessa pedra, suporta a dor, restringe seus movimentos e, como resultado, morre de morte agonizante se a pedra causar sepse. Como ficar em uma linha tênue, à esquerda da qual está o sacrifício e à direita está a agressividade?

Como entender que nos tornamos vítimas de agressão

Para determinar que a agressão destrutiva é dirigida a nós, é importante confiar nas sensações e ouvir nossos próprios sentimentos. Esta é uma das maneiras mais rápidas e confiáveis ​​de navegar na situação. Os sentimentos são parte integrante do nosso ser. São eles que nos dão informações sobre o mundo ao nosso redor e determinam que algo está errado, que estamos em perigo. A capacidade de reconhecer seus próprios sentimentos e os dos outros, bem como gerenciar suas emoções, é chamada de inteligência emocional.

É mais provável que você experimente agressão destrutiva se tiver esses sentimentos:

Desorientaçao

Você se sente perdido: não sabe para onde ir, está procurando algo sem rumo, está em um nevoeiro. Não há clareza e transparência. Você está “desligado” do fluxo da vida, indefeso e devastado. Você gostaria de reagir às palavras ou ações de outras pessoas, mas estando em estado de estupor, você não tem essa oportunidade.

Ansiedade

A mera presença de outra pessoa o desequilibra – há uma sensação de ansiedade, talvez até um leve tremor. E também existem dois impulsos opostos – ao mesmo tempo você parece ser atraído por uma pessoa, mas ao mesmo tempo repelido por ela. Você entende que, provavelmente, cometeu um erro ao avaliar a situação atual e seu papel nela.

Tensão que se transforma em descontentamento

Você se sente completamente despreparado pelo fato de uma pessoa não cumprir as promessas feitas a você e suas expectativas não se tornarem realidade. Sinta como os sonhos são despedaçados e a esperança está desmoronando. Entenda que você está deixando alguém tirar vantagem de você.

O que fazer se você se tornar uma vítima?

Sair desse «círculo agressivo» nos ajudará a confiar em nossos sentimentos, fortalecer nossa própria percepção do que está acontecendo e a experiência positiva de cooperação com outras pessoas.

Por que fortalecer sua própria percepção? Muitos dos meus clientes foram incapazes de lutar contra a agressão maligna devido à falta de autoconfiança. Afinal, muitas vezes desvalorizamos nossas próprias experiências, pensando: “Parecia-me”. Mas precisamos ouvir o que e como nos dizem. Ouça o que dizemos.

E quando tivermos a certeza de que não nos pareceu e que realmente estamos sendo tratados de forma diferente do que queremos, teremos um motivo para nos proteger.

Não menos importante é a experiência de cooperação positiva. Se tivermos experiência na manifestação construtiva da agressão, podemos facilmente determinar a linha entre a agressão benigna e maligna, vemos a diferença entre elas.

A cooperação é um modelo de interação onde não há perdedores e vencedores, nem governantes e servos, onde não há necessidade de governar e obedecer. A cooperação baseia-se no acordo mútuo e no trabalho conjunto. Com ele podemos:

  • expressar seus pensamentos e ouvir o outro;

  • veja a si mesmo e aos outros;

  • valorize a si mesmo e aos outros;

  • perdoe erros para si e para os outros;

  • respeite o seu «não» e o outro;

  • conheça seus desejos e se interesse pelos desejos do outro;

  • conhecer suas próprias capacidades e aprender sobre as capacidades dos outros;

  • esforçar-se para crescer e oferecer-se para crescer para outro;

  • valorize sua solidão e respeite a solidão do outro;

  • aja no seu próprio ritmo e dê essa oportunidade a outro;

  • seja você mesmo e deixe o outro ser você mesmo.

Se não houver tal experiência, ela deve ser obtida. Por exemplo, em um relacionamento com um terapeuta. Nesse espaço seguro, o cliente, ao compartilhar pensamentos íntimos, crenças e emoções, estabelece contato com o terapeuta. E esse contato contribui para mudanças em sua vida. Quando há um lugar e um espaço na vida onde somos atenciosos e gentis, encontramos forças para sair do círculo agressivo. E entendemos que cada pessoa é digna de respeito e amor.

O que fazer se você mesmo mostrar agressividade?

Para reconhecer o agressor em si mesmo, você precisa ter uma alta autoconsciência. Durante minha prática psicoterapêutica (e trabalho há mais de 12 anos), não houve um único pedido para trabalhar com minha própria agressão. Ninguém veio para aprender a dominar seu ardor.

Na maioria das vezes, uma pessoa vem com reclamações como “algo está errado com outra pessoa ou com este mundo”, e já no processo acontece que ele mesmo é a fonte da agressão. É desagradável admitir, mas o reconhecimento é o passo mais importante e seguro nessa situação.

A cura vem quando uma pessoa, mesmo que por um momento, desiste de quem ela gostaria de se tornar e tenta ser quem ela é. Reconhecer-se como agressor, começar a pedir desculpas significa privar-se de uma “dose” de emoções que ajude a aliviar a tensão nervosa. Tal reconhecimento exige muita coragem e merece uma medalha de ouro!

Você precisa estudar a natureza de sua agressão e entender que explosões de raiva não resolvem o problema.

O relaxamento que vem após um ato de agressão não nos dá nada além de um sabor amargo, e um sentimento de profunda dúvida e desamparo ainda continua a viver por dentro.

A raiva nasce da tensão interna, que de vez em quando explode e fere os outros. Em vez de se concentrar nas fontes de aborrecimento, você deve pensar em possíveis soluções para o problema. Primeiro, assuma a responsabilidade por suas ações. E direcione sua tensão para as atividades: empreendedorismo, esportes, criatividade, recreação.

Lidar com sua agressividade sozinho não é fácil, e permanecer no círculo da raiva é perigoso. Você precisa procurar ajuda de um especialista que o conduzirá com calma e competência de um círculo agressivo para um círculo de atitude atenta, carinhosa e solidária em relação a si mesmo. Se a mina da agressão explodir, você definitivamente não estará sozinho em se recuperar peça por peça.

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