Brincando com a Sombra: Como Usar os Recursos Ocultos da Personalidade

Em cada um de nós existem lados que não vemos, não aceitamos. Eles contêm energia que pode ser liberada. Mas e se tivermos vergonha e medo de olhar profundamente para dentro de nós mesmos, para nossa Sombra? Conversamos sobre isso com o psicólogo Gleb Lozinsky.

O nome da prática «Shadow Work» evoca associações com o arquétipo junguiano, mas também com artes marciais que incluem o exercício de «shadow boxing». O que ela representa? Vamos começar pelo mais importante…

Psicologias: O que é essa Sombra?

Gleb Lozinski: Jung chamou a sombra de arquétipo, que na psique absorve tudo o que não reconhecemos em nós mesmos, quem não queremos ser. Não vemos, não ouvimos, não sentimos, não percebemos total ou parcialmente. Em outras palavras, a Sombra é o que está em nós, mas o que consideramos não ser nós mesmos, uma identidade rejeitada. Por exemplo: não permitirei agressão ou, ao contrário, fraqueza, porque acho que isso é ruim. Ou não vou defender o que é meu porque acho que a possessividade é indigna. Também podemos não reconhecer que somos gentis, generosos e assim por diante. E esta também é a Sombra rejeitada.

E você não pode ver...

É difícil para qualquer um de nós agarrar uma sombra, como morder um cotovelo, como ver dois lados da Lua ao mesmo tempo com o olho. Mas pode ser reconhecido por sinais indiretos. Aqui tomamos uma decisão: tudo, nunca mais vou ficar com raiva! E ainda, “Opa! Onde está a equanimidade!?”, “Mas como é, eu não queria!”. Ou alguém diz algo como “eu te amo”, e há desdém ou arrogância na voz, as palavras não condizem com a entonação. Ou alguém vai dizer: você é tão teimoso, argumentando, e ele voa indignado que não, eu não sou assim, não há provas!

Olhe ao redor: há muitos exemplos. Nós vemos facilmente a Sombra de outra pessoa (canudo no olho), mas não podemos ver a nossa própria (log). E mais uma coisa: quando algo nos outros é excessivo, é excessivo, irrita ou admira excessivamente, isso é influência da nossa própria Sombra, que projetamos, lançamos sobre os outros. E não importa se é bom ou ruim, é sempre sobre o que nós, humanos, não reconhecemos em nós mesmos. Graças ao não reconhecimento, a Sombra se alimenta da energia de nossa vida.

Mas por que simplesmente não reconhecemos essas qualidades, se já as temos?

Primeiro, é embaraçoso. Em segundo lugar, é assustador. E em terceiro lugar, é incomum. Se algum tipo de força vive em mim, boa ou ruim, significa que preciso lidar com essa força de alguma forma, fazer algo com ela. Mas é difícil, às vezes a gente não sabe lidar. Então é mais fácil dizer: “Ah, isso é complicado, prefiro não lidar com isso”. É como, você sabe, não é fácil para nós com pessoas que são muito sombrias, mas também não é fácil com pessoas que são muito claras. Só porque é poderoso. E nós, por assim dizer, somos bastante fracos de espírito, e precisamos de determinação para entrar em contato com a força, a energia e até com o desconhecido.

E aqueles que estão prontos para se familiarizar com essa força vêm até você?

Sim, alguns estão dispostos a entrar no eu desconhecido. Mas todo mundo decide por si mesmo sobre o grau de prontidão. Esta é uma decisão livre dos participantes. Afinal, trabalhar com a Sombra tem consequências: quando você descobre algo sobre si mesmo que não sabia antes, ou talvez não quisesse saber, a vida inevitavelmente muda de alguma forma.

Quem são seus professores?

Minha co-apresentadora Elena Goryagina e eu fomos treinados pessoalmente por John e Nicola Kirk do Reino Unido e online pelo americano Cliff Barry, o criador do treinamento Shadow Working. John é enérgico e direto, Nicola é sutil e profundo, Cliff é um mestre em combinações de diferentes métodos. Ele trouxe para a prática psicoterapêutica um sentido do sagrado, do ritual. Mas todo mundo que faz esse tipo de trabalho faz um pouco diferente.

Qual é a essência do método?

Criamos condições favoráveis ​​para reconhecer a Sombra que mais interfere na vida de um determinado membro do grupo. E ele ou ela encontra sua maneira individual de revelar a energia que a Sombra esconde. Ou seja, eles vão para a roda e formulam um pedido, por exemplo: “É difícil para mim dizer o que eu quero”, e com a ajuda do grupo eles trabalham com esse pedido. Este é um método sintético, o foco principal (em ambos os sentidos) é ver a forma habitual de comportamento que distorce a vida, mas não se realiza. E então mude com a ajuda de uma ação específica: a manifestação e/ou recebimento de força, energia.

Algo como boxe de sombra?

Eu não sou um especialista nesta luta. Se na primeira aproximação, no «boxe das sombras» o lutador entra em contato mais profundo consigo mesmo. Não há rival real, e a autopercepção começa a funcionar de um modo diferente, uma autoconsciência mais completa. Portanto, o «boxe sombra» é usado na preparação para uma luta real.

Trabalhamos com a Sombra para que a Sombra não brinque conosco. Brincamos com a Sombra para trabalhar para nós.

E sim, nosso trabalho para dominar a Sombra inicia um contato mais profundo com nós mesmos. E como a vida e o mundo interior são diversos, nós, além da Sombra, usamos mais quatro arquétipos: o Monarca, o Guerreiro, o Mago, o Amoroso — e nos oferecemos a considerar qualquer história, problema, necessidade deste ponto de vista. Visão.

Como isso acontece?

Isso é muito individual, mas para simplificar: por exemplo, um certo homem pode ver que com as mulheres ele usa a tática do Guerreiro. Ou seja, busca conquistar, conquistar, capturar. Ou ele parece muito frio na energia do Mago, ou é levado por contatos fugazes, ele flui através do relacionamento na energia do Amante. Ou age como um monarca no papel de um benfeitor. E sua reclamação: “Não sinto intimidade! ..”

É um trabalho longo?

Geralmente fazemos treinamentos de campo por 2-3 dias. O trabalho em grupo é muito poderoso, por isso pode ser de curto prazo. Mas também existe um formato de cliente único e técnicas que podem ser usadas de forma independente.

Há alguma restrição para participação?

Temos o cuidado de levar aqueles que precisam de terapia de apoio, cuja tarefa não é piorar. Nosso treinamento é mais para quem quer se desenvolver: trabalhar com a Sombra é adequado para o crescimento pessoal.

Qual é o resultado de conhecer a Sombra?

Nosso objetivo é integrar a Sombra no indivíduo. A atenção do participante, portanto, é direcionada para o local onde ele possui uma zona morta, a fim de reviver essa zona, para conectá-la com o resto do corpo. Imagine, a gente vive e não sente alguma parte do corpo, ela está ali, mas a gente não sente, não usa. Uma parte é fácil de prestar atenção e a outra é difícil. Aqui no dedão é fácil. E no dedo médio já é mais difícil. E aí eu cheguei lá com a minha atenção, senti, mas mexer? E aos poucos essa parte se torna realmente minha.

E se não for o dedo médio, mas uma mão ou um coração? Algumas pessoas pensam que isso não é necessário, porque antes de alguma forma viveram sem isso, bem, você pode continuar vivendo. Algumas pessoas perguntam: eu senti, e agora o que fazer com isso? E nossa tarefa como apresentadores é fazer com que os participantes entendam que eles têm um trabalho separado a fazer para incorporar novas oportunidades e conhecimentos na vida.

Se integrarmos a Sombra, o que ela nos dará?

Sensação de completude. Totalidade sempre significa mais encarnação de mim. Eu no sistema de relações familiares, eu com meu corpo, com meus valores, eu com meu negócio. Aqui estou. «I» acorda e adormece. Dominar a Sombra nos dá uma maior sensação de presença em nossas próprias vidas. Dá-lhe a coragem de começar algo, isto é, decidir fazer algo próprio. Permite-me encontrar o que quero. Ou desista do que você não quer. Conheça suas necessidades.

E para alguém será a criação de seu reino, o mundo. Criação. Ame. Porque se não notamos a Sombra, é como se não notássemos a mão direita ou esquerda. Mas isso é algo significativo: uma mão, como ela se move? Oh, olhe, ela estendeu a mão, acariciou alguém, criou algo, apontou para algum lugar.

Quando percebemos isso, outra vida começa com um novo «eu». Mas trabalhar com a Sombra, com o inconsciente em nós, é um processo sem fim, porque só Deus é uno e onipresente, e uma pessoa está sempre limitada na autopercepção, na percepção do mundo. Enquanto não formos o sol, teremos uma Sombra, não fugiremos disso. E sempre temos algo a descobrir e transformar em nós mesmos. Trabalhamos com a Sombra para que a Sombra não brinque conosco. Brincamos com a Sombra para que a Sombra funcione para nós.

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