Pitágoras (c. 584 – 500)

Pitágoras ao mesmo tempo uma figura real e mitológica da antiga civilização grega. Até mesmo seu próprio nome é objeto de conjecturas e interpretações. A primeira versão da interpretação do nome Pitágoras é “predita por Pítia”, ou seja, um adivinho. Outra opção concorrente: “persuadir pela fala”, pois Pitágoras não só sabia convencer, mas era firme e inflexível em seus discursos, como o oráculo de Delfos.

O filósofo veio da ilha de Samos, onde passou a maior parte de sua vida. No início, Pitágoras viaja muito. No Egito, graças ao patrocínio do faraó Amasis, Pitágoras conheceu os sacerdotes de Mênfis. Graças aos seus talentos, ele abre o santo dos santos – os templos egípcios. Pitágoras é ordenado sacerdote e torna-se membro da casta sacerdotal. Então, durante a invasão persa, Pitágoras é capturado pelos persas.

É como se o próprio destino o conduzisse, mudando uma situação para outra, enquanto as guerras, as tempestades sociais, os sacrifícios sangrentos e os acontecimentos velozes atuassem apenas como pano de fundo para ele e não afetassem, ao contrário, exacerbassem seu desejo de aprender. Na Babilônia, Pitágoras conhece magos persas, dos quais, segundo a lenda, aprendeu astrologia e magia.

Na idade adulta, Pitágoras, sendo um adversário político de Polícrates de Samos, mudou-se para a Itália e instalou-se na cidade de Crotone, onde o poder no final do século VI. BC e. pertencia à aristocracia. É aqui, em Crotone, que o filósofo cria sua famosa união pitagórica. De acordo com Dicearco, seguiu-se que Pitágoras morreu em Metaponto.

“Pitágoras morreu fugindo para o Templo Metapontino das Musas, onde passou quarenta dias sem comida.”

Segundo as lendas, Pitágoras era filho do deus Hermes. Outra lenda diz que um dia o rio Kas, ao vê-lo, cumprimentou o filósofo com voz humana. Pitágoras combinou as características de um sábio, místico, matemático e profeta, um profundo pesquisador das leis numéricas do mundo e um reformador religioso. Ao mesmo tempo, seus adeptos o reverenciavam como um milagreiro. 

No entanto, o filósofo possuía humildade suficiente, como evidenciam algumas de suas instruções: “Faça grandes coisas sem prometer grandes coisas”; “Fique em silêncio ou diga algo melhor que o silêncio”; “Não se considere um grande homem pelo tamanho de sua sombra ao pôr do sol.” 

Então, quais são as características da obra filosófica de Pitágoras?

Pitágoras absolutizou e mistificou os números. Os números foram elevados ao nível da essência real de todas as coisas e atuaram como o princípio fundamental do mundo. A imagem do mundo foi retratada por Pitágoras com a ajuda da matemática, e o famoso “misticismo dos números” tornou-se o auge de seu trabalho.

Alguns números, segundo Pitágoras, correspondem ao céu, outros às coisas terrenas – justiça, amor, casamento. Os primeiros quatro números, sete, dez, são os “números sagrados” que fundamentam tudo o que existe no mundo. Os pitagóricos dividiam os números em pares, ímpares e pares-ímpares – uma unidade que eles reconheciam como a base de todos os números.

Aqui está um resumo das visões de Pitágoras sobre a essência do ser:

* Tudo são números. * O começo de tudo é um. A mônada sagrada (unidade) é a mãe dos deuses, o princípio universal e a base de todos os fenômenos naturais. * O “dois indefinidos” vem da unidade. Dois é o princípio dos opostos, negatividade na natureza. * Todos os outros números vêm da dualidade indefinida – os pontos vêm dos números – dos pontos – linhas – das linhas – figuras planas – das figuras planas – figuras tridimensionais – das figuras tridimensionais nascem os corpos sensualmente percebidos, nos quais as quatro bases – movendo-se e girando inteiramente, eles produzem um mundo – racional, esférico, no meio do qual a terra, a terra também é esférica e habitada por todos os lados.

Cosmologia.

* O movimento dos corpos celestes obedece a relações matemáticas conhecidas, formando uma “harmonia de esferas”. * A natureza forma um corpo (três), sendo a trindade do início e seus lados contraditórios. * Quatro – a imagem dos quatro elementos da natureza. * Dez é a “década sagrada”, a base da contagem e de todo misticismo dos números, é a imagem do universo, composto por dez esferas celestes com dez luminares. 

Conhecimento.

* Conhecer o mundo segundo Pitágoras significa conhecer os números que o regem. * Pitágoras considerava a pura reflexão (sophia) o tipo mais elevado de conhecimento. * Permitiu formas mágicas e místicas de conhecer.

Comunidade.

* Pitágoras era um fervoroso oponente da democracia, em sua opinião, o demos deve obedecer rigorosamente à aristocracia. * Pitágoras considerava a religião e a moral como os principais atributos de ordenação da sociedade. * A “difusão da religião” universal é o dever básico de cada membro da união pitagórica.

Ética.

Os conceitos éticos no pitagorismo são, em alguns pontos, bastante abstratos. Por exemplo, a justiça é definida como “um número multiplicado por si mesmo”. No entanto, o principal princípio ético é a não violência (ahimsa), não infligir dor e sofrimento a todos os outros seres vivos.

Alma.

* A alma é imortal, e os corpos são os túmulos da alma. * A alma passa por um ciclo de reencarnações em corpos terrenos.

Deus.

Os deuses são as mesmas criaturas que as pessoas, estão sujeitos ao destino, mas mais poderosos e vivem mais.

Pessoa.

O homem está completamente subordinado aos deuses.

Entre os méritos indiscutíveis de Pitágoras antes da filosofia, deve-se incluir o fato de que ele é um dos primeiros na história da filosofia antiga a falar em linguagem científica sobre metempsicose, reencarnação, evolução das almas espirituais e sua transferência de um corpo. para outro. Sua defesa da ideia da metampsicose às vezes tomava as formas mais bizarras: uma vez o filósofo proibiu ofender um cachorrinho alegando que, em sua opinião, esse cachorrinho tinha aparência humana em sua encarnação passada e era amigo de Pitágoras.

A ideia da metempsicose seria mais tarde aceita pelo filósofo Platão e desenvolvida por ele em um conceito filosófico integral, e antes de Pitágoras seus divulgadores e confessores foram os órficos. Como os partidários do culto olímpico, os órficos tinham seus próprios mitos “bizarros” sobre a origem do mundo – por exemplo, a ideia do nascimento de uXNUMXbuXNUMXbits de um embrião-ovo gigante.

Nosso universo tem a forma de um ovo também de acordo com a cosmogonia dos Puranas (antigos textos indianos, védicos). Por exemplo, no “Mahabharata” lemos: “Neste mundo, quando estava envolto em escuridão por todos os lados sem brilho e luz, um enorme ovo apareceu no início do yuga como a causa raiz da criação, a semente eterna de todos os seres, que é chamado Mahadivya (Grande divindade)”.

Um dos momentos mais interessantes do orfismo, do ponto de vista da formação posterior da filosofia grega, foi a doutrina da metempsicose – a transmigração das almas, o que torna essa tradição helênica relacionada às visões indianas sobre o samsara (o ciclo de nascimentos e mortes) e a lei do carma (a lei da reencarnação de acordo com a atividade).

Se a vida terrena de Homero é preferível à vida após a morte, os órficos têm o contrário: a vida é sofrimento, a alma no corpo é inferior. O corpo é o túmulo e a prisão da alma. O objetivo da vida é a libertação da alma do corpo, superando a lei inexorável, quebrando a cadeia das reencarnações e alcançando a “ilha dos bem-aventurados” após a morte.

Esse princípio axiológico básico (valor) subjaz aos ritos de limpeza praticados tanto pelos órficos quanto pelos pitagóricos. Pitágoras adotou dos órficos as regras ritual-ascéticas de preparação para uma “vida feliz”, tendo construído em suas escolas a educação segundo o tipo de ordem monástica. A ordem pitagórica tinha sua própria hierarquia, suas próprias cerimônias complexas e um sistema estrito de iniciação. A elite da ordem eram os matemáticos (“esotéricos”). Quanto aos acusmatistas (“exotéricos”, ou noviços), apenas a parte externa e simplificada da doutrina pitagórica estava disponível para eles.

Todos os membros da comunidade praticavam um estilo de vida ascético, que incluía inúmeras proibições alimentares, em particular a proibição de comer alimentos de origem animal. Pitágoras era um vegetariano convicto. No exemplo de sua vida, notamos primeiro como o conhecimento filosófico é combinado com o comportamento filosófico, cujo centro é o ascetismo e o sacrifício prático.

Pitágoras foi caracterizado pelo desapego, uma propriedade espiritual importante, um companheiro imutável da sabedoria. Com todas as críticas implacáveis ​​ao filósofo antigo, não se deve esquecer que foi ele, um eremita da ilha de Samos, que certa vez definiu a filosofia como tal. Quando o tirano Leontes de Phlius perguntou a Pitágoras quem ele era, Pitágoras respondeu: “Filósofo”. Essa palavra não era familiar para Leont, e Pitágoras teve que explicar o significado de neologismo.

“A vida”, comentou, “é como os jogos: uns vêm para competir, outros para negociar, e os mais felizes para assistir; assim também na vida os outros, como escravos, nascem ávidos de glória e ganho, enquanto os filósofos estão apenas à altura da única verdade.

Para concluir, citarei dois aforismos éticos de Pitágoras, mostrando claramente que, na pessoa desse pensador, o pensamento grego pela primeira vez abordou a compreensão da sabedoria, principalmente como comportamento ideal, ou seja, prática: “A estátua é bela por a aparência, e o homem pelas suas obras”. “Meça seus desejos, pese seus pensamentos, enumere suas palavras.”

posfácio poético:

Não é preciso muito para se tornar vegetariano – você só precisa dar o primeiro passo. No entanto, o primeiro passo é muitas vezes o mais difícil. Quando perguntaram ao famoso mestre sufi Shibli por que ele escolheu o Caminho do auto-aperfeiçoamento espiritual, o mestre respondeu que foi movido a isso por um cachorrinho de rua que viu seu reflexo em uma poça. Nos perguntamos: como a história de um cachorrinho de rua e seu reflexo em uma poça desempenharam um papel simbólico no destino dos sufis? O cachorro estava com medo de seu próprio reflexo, e então a sede superou seu medo, ele fechou os olhos e, pulando em uma poça, começou a beber. Da mesma forma, cada um de nós, se decidir trilhar o caminho da perfeição, deve, tendo sede, cair na fonte vivificante, deixando de transformar nosso corpo em sarcófago (!) – morada da morte , todos os dias enterrando a carne de pobres animais torturados em nosso próprio estômago.

—— Sergey Dvoryanov, Candidato de Ciências Filosóficas, Professor Associado do Departamento da Universidade Técnica Estadual de Aviação Civil de Moscou, Presidente do Clube Filosófico e Jornalístico Leste-Oeste, praticando um estilo de vida vegetariano por 12 anos (filho – 11 anos, vegetariano do nascimento)

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