Ressentimento e raiva da mãe: ela deve falar sobre eles?

Ao crescer, permanecemos conectados por laços invisíveis com a pessoa mais próxima – a mãe. Alguém leva seu amor e carinho com eles em uma viagem independente, e alguém leva ressentimento e dor tácitos que tornam difícil confiar nas pessoas e construir relacionamentos íntimos com elas. Será que nos sentiremos melhor se contarmos à nossa mãe como nos sentimos? A psicoterapeuta Veronika Stepanova reflete sobre isso.

“Mamãe sempre foi dura comigo, criticada por qualquer erro”, lembra Olga. — Se quatro entrassem no diário, ela disse que eu lavaria os banheiros da estação. Ela constantemente comparou com outras crianças, deixou claro que eu poderia obter sua boa atitude apenas em troca de um resultado impecável. Mas, neste caso, ela não se entregou à atenção. Não me lembro dela me abraçando, me beijando, tentando de alguma forma me animar. Ela ainda me faz sentir culpado: vivo com a sensação de que não cuido bem dela. As relações com ela se tornaram uma armadilha na infância, e isso me ensinou a encarar a vida como uma prova difícil, a ter medo de momentos alegres, a evitar pessoas com quem me sinto feliz. Talvez uma conversa com ela ajude a remover esse fardo da alma?

A psicoterapeuta Veronika Stepanova acredita que somente nós mesmos podemos decidir se devemos conversar com nossa mãe sobre nossos sentimentos. Ao mesmo tempo, você precisa se lembrar: após essa conversa, um relacionamento já tenso pode se tornar ainda pior. “Queremos que a mãe admita que estava errada de várias maneiras e acabou sendo uma mãe ruim. Pode ser difícil concordar com isso. Se a situação de silêncio é dolorosa para você, prepare uma conversa com antecedência ou discuta-a com um psicólogo. Experimente a técnica da terceira cadeira, que é usada na Gestalt-terapia: uma pessoa imagina que sua mãe está sentada em uma cadeira, então ele se move para aquela cadeira e, gradualmente identificando-se com ela, fala consigo mesmo em nome dela. Isso ajuda a entender melhor o outro lado, seus sentimentos e experiências não ditas, a perdoar algo e deixar de lado as mágoas infantis.

Vamos analisar dois cenários negativos típicos das relações pais-filhos e como se comportar na idade adulta, se vale a pena iniciar um diálogo sobre o passado e quais táticas seguir.

«A mãe não me ouve»

“Quando eu tinha oito anos, minha mãe me deixou com minha avó e foi trabalhar em outra cidade”, conta Olesya. — Ela se casou, eu tinha um meio-irmão, mas ainda morávamos longe um do outro. Senti que ninguém precisava de mim, sonhei que minha mãe me levaria embora, mas só fui morar com ela depois da escola, para ir para a faculdade. Isso não poderia compensar os anos de infância passados ​​separados. Tenho medo de que qualquer pessoa de quem nos aproximemos me deixe, como uma mãe fez uma vez. Tentei falar com ela sobre isso, mas ela chora e me acusa de egoísmo. Ela diz que foi forçada a sair de onde há trabalho, pelo bem do meu próprio futuro.

“Se a mãe não consegue dialogar, não adianta continuar discutindo com ela temas que te preocupam”, diz a psicoterapeuta. “Você ainda não será ouvido, e o sentimento de rejeição só vai piorar.” Isso não significa que os problemas das crianças devam permanecer sem solução – é importante resolvê-los com um profissional. Mas é impossível refazer um idoso cada vez mais fechado.

“Mãe me denigre aos olhos dos parentes”

“Meu pai, que não está mais vivo, foi cruel comigo e com meu irmão, ele poderia levantar a mão contra nós”, lembra Arina. — A mãe ficou calada no início, e depois ficou do lado dele, acreditando que ele estava certo. Quando um dia tentei proteger meu irmãozinho do meu pai, ela me deu um tapa. Como punição, ela não pôde falar comigo por meses. Agora nosso relacionamento ainda está frio. Ela diz a todos os parentes que sou uma filha ingrata. Quero falar com ela sobre tudo o que vivi quando criança. Memórias da crueldade de meus pais me assombram.”

“Uma mãe sádica é o único caso em que os filhos adultos devem dizer tudo na cara dela, sem poupar sentimentos”, acredita a psicóloga. — Se, crescendo, a criança perdoa a mãe e, apesar da experiência, a trata bem, surge nela um sentimento de culpa. Esse sentimento é desagradável, e o mecanismo de defesa pressiona para denegrir as crianças e torná-las culpadas. Ela começa a contar a todos sobre sua falta de coração e depravação, reclama e se expõe como vítima. Se você tratar essa mãe com bondade, ela o tratará pior por causa da culpa. E vice-versa: sua rigidez e franqueza delinearão os limites do que é permitido para ela. A comunicação calorosa com uma mãe que se comportou de maneira sádica, provavelmente, não funcionará. Você precisa falar sobre seus sentimentos diretamente e não esperar construir amizades.

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