O gelo quebrou: pare de construir um muro entre você e o mundo

Ser forte, suportar as dificuldades, cerrar os dentes, passar a vida de cabeça erguida, sem pedir apoio e ajuda... pessoas importantes para nós. De onde vem esta instalação e é realmente assim? A psicóloga Galina Turetskaya conta.

«Sem força, sem vontade de viver.» — Natasha se fechou no apartamento, mergulhada em uma depressão à beira do leito por vários meses. O dinheiro está acabando. Ela rompeu relações com um ente querido, largou o emprego ...

Ela é a filha mais nova da família, mas nunca foi ajudada financeiramente. Mesmo quando o cereal acabou em um apartamento alugado e Natasha desmaiou de fome no ônibus, ela nem foi comer com os pais. Sem falar no pedido de empréstimo.

“Se eu admitir que falhei, eles vão parar de me amar.” Claro, ela não pensava nisso como as pessoas pensam sobre o que vestir ou para onde ir nas férias. Mas o pensamento estava lá no fundo. Veja como: primeiro pensamos um pensamento, e depois ele nos pensa.

A crença de que “não sou amado se sou fraco” levou muito tempo para se desenvolver. Passando pelo escritório onde Natasha trabalhava, minha mãe estava levando o almoço para a irmã mais velha. Muitos anos depois, Natasha perguntou: “Mãe, por quê?” Mamãe ficou genuinamente surpresa: “Sim?! Eu não trouxe almoço para vocês dois?!»

Os aniversários da irmã foram planejados com antecedência, o presente foi discutido no conselho de família. De seus presentes, Natasha se lembra apenas de uma boneca – por oito anos.

Primeiro aniversário na vida independente: uma vizinha do dormitório comprou um ursinho de pelúcia e flores com uma bolsa de estudos – e não entendia por que Natasha tinha um acesso de raiva. E ela parecia ter entrado na realidade como um poste de luz: acontece que alguém pode querer que eu tire férias?! Acontece?

Para se abrir ao amor, você deve primeiro enfrentar a amargura e a raiva e lamentar a perda sem se culpar pela fraqueza.

Não existe amor, porque existe uma atitude de ser forte? Ou você sempre tem que ser forte para conseguir um pouco de amor? É como a eterna discussão sobre o que veio primeiro, a galinha ou o ovo. O que importa não é a dialética, mas o resultado.

"Eu amo meus pais. Das últimas forças. Mas não se trata mais de amor, mas de seu déficit, da necessidade de sucção de aceitação. E no interior — o ressentimento acumulado. Para cada aniversário. Para cada refeição passada. Pelo dinheiro emprestado dos pais pelo único tempo de volta. E você não pode se ofender com seus pais, senão eles não vão amar de jeito nenhum?

Mas, para se abrir ao amor, é preciso primeiro enfrentar a amargura e a raiva e lamentar a perda sem se culpar pela fraqueza. Só depois disso Natasha foi capaz de confessar à sua família que nem tudo em sua vida corresponde à ilusão do arco-íris que ela criou. E seus pais não a afastaram! Acontece que ela mesma construiu o muro da antipatia com os tijolos de gelo do ressentimento. Esse frio a acorrentou, não lhe permitindo respirar (no sentido literal e figurado, porque o ressentimento agrilhoa o corpo, torna a respiração superficial)...

Alguns dias depois, Natasha contou com lágrimas como leu um artigo sobre a cura de uma mulher: quando você puder ir até sua mãe, coloque a cabeça sobre os joelhos ... : “Filha, como estão seus negócios? Venha visitar, eu vou alimentá-lo com uma comida deliciosa, e então vamos deitar com você, vou apenas acariciar sua cabeça.”

O gelo quebrou. Definitivamente.

Deixe um comentário