Psicologia

Acredita-se que a cada erro ganhamos experiência e sabedoria. Mas é realmente assim? O psicanalista Andrey Rossokhin fala sobre o estereótipo “aprender com os erros” e garante que a experiência adquirida não protege contra repetidos erros.

«Os humanos tendem a cometer erros. Mas só um tolo insiste em seu erro” — essa ideia de Cícero, formulada por volta de 80 aC, inspira um grande otimismo: se precisamos de delírios para nos desenvolver e seguir em frente, então vale a pena se perder!

E agora os pais inspiram a criança que recebeu um empate por dever de casa não feito: “Deixe isso servir de lição para você!” E agora o gerente garante aos funcionários que admite seu erro e está determinado a corrigi-lo. Mas sejamos honestos: quem de nós já não pisou no mesmo ancinho várias vezes? Quantos conseguiram se livrar de um mau hábito de uma vez por todas? Talvez a falta de força de vontade seja a culpada?

A ideia de que uma pessoa se desenvolve aprendendo com os erros é enganosa e destrutiva. Dá uma ideia extremamente simplificada do nosso desenvolvimento como um movimento da imperfeição à perfeição. Nessa lógica, uma pessoa é como um robô, um sistema que, dependendo da falha ocorrida, pode ser corrigido, ajustado, definir coordenadas mais precisas. Supõe-se que o sistema a cada ajuste funcione de forma cada vez mais eficiente e haja cada vez menos erros.

Na verdade, esta frase rejeita o mundo interior de uma pessoa, seu inconsciente. Afinal, na verdade, não estamos passando do pior para o melhor. Estamos nos movendo — em busca de novos significados — de conflito em conflito, que são inevitáveis.

Digamos que uma pessoa mostrou agressão em vez de simpatia e se preocupa com isso, acreditando que cometeu um erro. Ele não entende que naquele momento não estava pronto para mais nada. Tal era o estado de sua consciência, tal era o nível de suas capacidades (a menos, é claro, que fosse um passo consciente, que também não pode ser chamado de erro, mas de abuso, de crime).

Tanto o mundo exterior quanto o mundo interior estão em constante mudança, e é impossível supor que um ato cometido há cinco minutos continuará sendo um erro.

Quem sabe por que uma pessoa pisa no mesmo ancinho? Dezenas de razões são possíveis, incluindo o desejo de se machucar, ou despertar a piedade de outra pessoa, ou provar algo – para si mesmo ou para alguém. O que há de errado aqui? Sim, precisamos tentar entender o que nos leva a fazer isso. Mas esperar evitar isso no futuro é estranho.

Nossa vida não é o «Dia da Marmota», onde você pode, tendo cometido um erro, corrigi-lo, encontrando-se no mesmo ponto depois de um tempo. Tanto o mundo exterior quanto o mundo interior estão em constante mudança, e é impossível supor que um ato cometido há cinco minutos continuará sendo um erro.

Faz sentido falar não sobre erros, mas sobre a experiência que acumulamos e analisamos, enquanto percebemos que nas novas condições alteradas, pode não ser diretamente útil. O que então nos dá essa experiência?

A capacidade de reunir sua força interior e agir enquanto permanece em contato direto com os outros e consigo mesmo, seus desejos e sentimentos. É esse contato vivo que permitirá que cada próximo passo e momento da vida – proporcional à experiência acumulada – seja percebido e avaliado de novo.

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